Sobre Para "Sempres"

Hoje a Bela fez duas pulseiras com bolinhas de plástico. Veio toda feliz: mãe, eu vi que o plástico dura mais de 400 anos, então fiz nossas pulseiras, elas representam que nosso amor é para sempre.

Fiquei, óbvio, emocionada, e, a coloquei no meu pulso. Para sempre.

Coincidentemente hoje achei uma carta da minha avó endereçada a mim em 2014, li em lágrimas, constatando que não somos para sempre ... que o para sempre, sempre acaba, já cantava Renata Russo.

Aquela amiga de infância que era para sempre e não chegou conosco à puberdade, o primeiro namorado que é só uma memória de tempos remotos, a turma do colegial que é pulverizada nas universidades de todo canto, a panela da faculdade que não sobrevive à vida que vem adiante.

As minhas novas pulseiras coloridas não me deixaram saudosista, não é sobre isto. Saudades pra mim anda pra frente, o vivido chamo de outra coisa. Às vezes chamo de medo, vergonha, alegria, tristeza, orgulho, dúvida ...

Olho para as pulseiras e sinto o porvir: as estradas de barros que ainda vamos percorrer, as fotografias que ainda nos farão rir, os assuntos que iremos assuntar, as paisagens que nos inebriarão, os sabores ainda não experimentados, a página em branco que rabiscaremos, os lápis que ainda apontaremos juntas, as canções que ainda vamos cantar, as lágrimas e abraços que nos acolherão, os improvisos, incertezas, frustrações acalentados pelo nosso amor ... que venham os próximos 400 anos, nós e nossas pulseiras estamos prontas.